A crise de superlotação que resultou no fechamento de quatro das seis salas de cirurgia no Hospital Walfredo Gurgel em Natal é um reflexo contundente da precariedade e falta de infraestrutura que assolam a saúde pública no Rio Grande do Norte. Considerando que o hospital é a principal referência em urgência e emergência no estado, a situação revela um abismo entre a demanda crescente por atendimentos e a capacidade limitada de resposta do sistema de saúde. Esse desequilíbrio é alarmante, pois compromete diretamente a vida dos pacientes e a eficácia dos atendimentos emergenciais.
Ao desviar salas de cirurgia para acomodação de pacientes, o hospital se vê obrigado a reduzir a capacidade de realizar procedimentos cirúrgicos, algo que agrava a situação de pessoas que precisam de intervenções imediatas. O fato de que essa readequação ocorreu pela segunda vez em poucos meses indica uma falha estrutural que parece estar longe de ser solucionada. O impacto vai além das salas de cirurgia. A inoperância de dois tomógrafos — aparelhos essenciais para diagnósticos precisos — acrescenta uma camada ainda mais preocupante à crise, limitando diagnósticos e, consequentemente, o início rápido de tratamentos adequados.
A resposta da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) de que está buscando liberar leitos e consertar um dos tomógrafos demonstra uma tentativa de atenuar o problema, mas parece ser insuficiente diante da magnitude da demanda. A peça importada para o segundo tomógrafo ainda está em espera, revelando uma dependência logística que prejudica a saúde pública e reforça a fragilidade do sistema em enfrentar emergências de maneira rápida e eficiente.
Em termos estruturais, o problema parece estar enraizado na falta de investimentos robustos e planejamento para ampliação de leitos e modernização de equipamentos. A superlotação recorrente não apenas compromete o atendimento imediato, mas sobrecarrega as equipes médicas, que ficam sobre pressão constante e limitadas em suas atuações.
A crise no Walfredo Gurgel expõe uma realidade dura e reitera a urgência de medidas profundas e sistêmicas que incluam a criação de novas vagas hospitalares, melhoria dos equipamentos e revisão de protocolos de atendimento. A população do Rio Grande do Norte merece um sistema de saúde pública funcional e capaz de atender às suas necessidades básicas. Essa é uma demanda que não pode mais ser adiada, especialmente em um estado cuja rede de atendimento se mostra tão sobrecarregada.