Ameaça contra a Prefeita de Parnamirim, Nilda, aciona investigação de alto nível com rastreamento digital minucioso: conheça os rastros irreversíveis deixados, que levam à identificação do autor.
OPINIÃO | Daniel Morais/ContrapontoRN
No mundo moderno, onde cada passo deixa um rastro digital, cometer um crime através de um aplicativo como o WhatsApp é praticamente o mesmo que assinar uma confissão. A recente ameaça enviada à Prefeita de Parnamirim, Nilda, através de mensagem no WhatsApp, acionou uma série de procedimentos investigativos que mostram como a tecnologia virou a maior aliada da Justiça.
Rastreio do Número de Telefone: o ponto de partida – Tudo começa com a identificação do número de telefone utilizado. No Brasil, é obrigatório cadastrar um chip de celular com CPF válido e documentação. Isso permite que as autoridades rastreiem rapidamente quem é o titular da linha usada para enviar a ameaça. Mesmo que um CPF de “laranja” tenha sido usado, a operadora consegue fornecer registros importantes como localização de ativação do chip, tentativas de troca de titularidade, aparelhos nos quais o chip foi utilizado, horários de conexão e histórico de chamadas e recargas. Esse é o primeiro fio da meada que começa a ser puxado.
WhatsApp e os registros que não mentem – A Meta, empresa responsável pelo WhatsApp, armazena metadados importantes sobre cada conta, ainda que as mensagens sejam criptografadas. Com autorização judicial, é possível acessar logs de horários de acesso, IPs utilizados, aparelhos conectados e até mesmo mudanças de número. Esses dados mostram o momento exato do envio da ameaça, ajudam a identificar o dispositivo utilizado e ainda permitem cruzamento com outras informações — como localização e rede Wi-Fi acessada no momento da mensagem.
O dispositivo utilizado: a pegada digital do celular – Cada celular possui um número de série único chamado IMEI (Identificação Internacional de Equipamento Móvel), registrado automaticamente na Anatel. Mesmo que o chip seja trocado, o aparelho continua emitindo esse número. As autoridades conseguem identificar o IMEI e verificar em quais datas ele esteve conectado, em quais torres de telefonia e quais chips já foram utilizados nele. Isso permite relacionar o aparelho à pessoa investigada e reconstruir sua movimentação e conexões com precisão.
Conexões com redes Wi-Fi: o IP que entrega tudo – Se o autor da ameaça se conectou a uma rede Wi-Fi, mesmo que por instantes, essa conexão gera um endereço de IP fixado ao local. O provedor de internet armazena esse dado, e, com ordem judicial, é possível identificar o nome e endereço do responsável pela rede usada. Essa é uma das formas mais precisas de rastrear a origem da mensagem. Tentativas de ocultação usando VPNs ou redes abertas públicas também deixam rastros, e ferramentas forenses modernas conseguem apontar inconsistências e suspeitas.
Endereço de IP, geolocalização e o mapa do crime digital – O IP (Internet Protocol) é como o “endereço digital” de cada conexão feita na internet. Mesmo quando o criminoso tenta se esconder atrás de ferramentas como VPNs ou redes móveis, o histórico de IPs utilizados revela padrões. A geolocalização associada ao IP, combinada com os dados do provedor, permite às autoridades desenhar um mapa completo dos locais de onde a conta do WhatsApp foi acessada, conectando essas informações a momentos e locais específicos, como o instante exato em que a mensagem foi enviada.
A linguagem entrega o autor – Peritos linguísticos analisam com profundidade a forma como a mensagem foi escrita. Erros de português, vícios de linguagem, regionalismos, gírias e até o uso (ou ausência) da norma culta ajudam a traçar um perfil do autor. Tentativas de mascarar o gênero com uso de nomes ou artigos femininos — como assinar com um nome de mulher para confundir a investigação — podem ser facilmente desmontadas. A comparação com postagens em redes sociais, comentários antigos ou conversas recuperadas mostra se há correspondência com o estilo do suspeito.
Perfil sociocultural e instrução revelados na escrita – O nível de escolaridade e o perfil sociocultural de quem escreve também emergem naturalmente. A forma como se estrutura uma frase, o uso correto ou incorreto de tempos verbais, a pontuação e até a escolha de palavras indicam se a pessoa tem instrução formal, quais ambientes costuma frequentar ou se tenta imitar determinado grupo social. Isso reduz o universo de suspeitos e pode ser decisivo para confirmar a autoria.
Histórico digital: pegadas deixadas na internet – Com ordem judicial, os investigadores acessam o histórico de navegação do dispositivo suspeito, seja por meio do Google, Apple ou navegadores. Se a pessoa pesquisou recentemente por termos como “ameaça WhatsApp”, “como mandar mensagem anônima” ou mesmo o nome da prefeita, esses dados se tornam provas diretas de premeditação. Além disso, aplicativos instalados, tempo de uso e comportamento digital (horários de acesso, frequência de uso) ajudam a traçar um perfil comportamental e alinhar evidências.
Ferramentas tecnológicas de ponta à disposição das autoridades – Hoje, as polícias civil e federal contam com softwares altamente especializados para investigação digital. Entre eles, o Cellebrite e o GrayKey, que extraem dados até de celulares bloqueados. Ferramentas como Elasticsearch e Kibana permitem cruzar grandes volumes de informações de forma visual e estruturada. Além disso, a inteligência artificial já é usada para análise preditiva e para encontrar padrões escondidos em meio a dados aparentemente desconexos. Tudo isso acelera e fortalece as investigações.
A falsa sensação de anonimato: uma armadilha moderna – Muitos ainda acreditam que a internet é um território sem lei, onde é possível atacar e desaparecer. Mas a realidade é que cada ação digital deixa um vestígio, e esses vestígios, quando somados, formam um caminho sólido até o autor. A tecnologia moderna transformou o celular em uma testemunha silenciosa, mas extremamente precisa. Enviar uma ameaça digital hoje é, na prática, deixar sua assinatura registrada em diversos servidores, bancos de dados e operadoras.
Nos solidarizamos profundamente com a Prefeita Nilda e sua família, e enviamos nossa força neste momento delicado. A verdade e a justiça prevalecerão. E a mensagem do ódio jamais calará a democracia.
O portal ContrapontoRN.com acompanhará o desenrolar dessa investigação com responsabilidade e vigilância.